terça-feira, 18 de junho de 2019

SEMENTE NO SERTÃO Gerson Amaro

SEMENTE NO SERTÃO
Gerson Amaro

Hoje a saudade me levou ao passado
O meu lembrado faz triste meu violão
Triste mudança da roça para a cidade
Hoje a saudade faz de novo uma canção
Lembro a porteira, na fechada derradeira
Quando a poeira seguia o caminhão
Minha mudança ajuntada e espremida
Feito a doída, da saudade deste chão


Minha a casinha aos poucos distanciando
Lá foi ficando toda minha criação
Quantos invernos a gente se esquentava
E se ajuntava pela taipa do fogão
Fogão de lenha o meu muito obrigado
Barro ajuntado feito homem de Adão
Hoje despeço deste meu grandioso amigo
Levo comigo , seu calor no coração

Na minha sala tinha uma imagem, tão bonita
Aparecida , minha Mãe da perfeição
Nesta mudança levo ela em meus braços
Num triste abraço , de tristeza e emoção
Pois quantos terços nesta sala foi rezado
Abençoado cada reza e estação
Por onde eu for minha fé sempre elevo
Ainda levo o terço em minha oração

Passo em frente a vendinha do Belmiro
Senhor tranqüilo , português e meu irmão
Vejo um aceno com um lenço empunhado
Olhos molhados parecendo irrigação
Eu sem dinheiro , comprei lá muito fiado
Tudo anotado e escrito em sua mão
A caderneta hoje apenas a lembrança
Da confiança que roça fez então

E toda vez que eu acordo aqui em casa
Sei que minha asa eu deixei lá no espigão
Um passarinho preso em uma gaiola
O que consola , é o som do violão
Quem sabe um dia Deus prepara minha volta
Com a escolta de anjos na imensidão
Ganharei asas como anjo nesta terra
Minha quimera é ser semente no sertão

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