Descalço e de pé no chão
Gerson Amaro
O meu primeiro calçado
Só ganhei com nove anos
Usado mas conservado
Pelos pés de outros manos
Uma irmão cedia ao outro
Um tempo de desenganos
Era um tempo tão difícil
Quase que um sacrifício
Não existia outros planos
Mesmo usado só usava
Para então ir para igreja
Descalço pra não sujar
Pois a pé era a peleja
No riacho, lava os pés
Para que ninguém mais veja
O calçado era usado
Mas era muito cuidado
Pois o mais novo, o deseja
Uma bolinha de meia
Foi então meu brinquedo
De retalho preenchida
Pé no chão, chuteira o dedo
Um campinho improvisado
De sombra, o arvoredo
A poeira levantava
Molecada então brincava
Esse era o nosso enredo
Mas então nos meus 10 anos
Eu ganhei uma enxada
Um cabo de guatambu
Duas libras afiada
Acabava a brincadeira
E a pé, outra jornada
De enxada eu troquei
Mas eu nunca descansei
Desta vida empreitada
A labuta não acaba
Nem a minha e nem a tua
Muito além de ter estrelas
Ter o sol e ter a lua
O céu é eternidade
E talvez eu evolua
Descalço e de pé no chão
Voltarei à imensidão
E o caminho continua
Nenhum comentário:
Postar um comentário