segunda-feira, 20 de março de 2023

Raiz

 Descalço e de pé no chão 

Gerson Amaro 


O meu primeiro calçado 

Só ganhei com nove anos 

Usado mas conservado 

Pelos pés de outros manos 

Uma irmão cedia ao outro 

Um tempo de desenganos 

Era um tempo tão difícil 

Quase que um sacrifício 

Não existia outros planos 


Mesmo usado só usava 

Para então ir para igreja  

Descalço pra não sujar 

Pois a pé era a peleja

No riacho, lava os pés 

Para que ninguém mais veja 

O calçado era usado 

Mas era muito cuidado 

Pois o mais novo, o deseja 


Uma bolinha de meia 

Foi então meu brinquedo 

De retalho preenchida 

Pé no chão, chuteira o dedo 

Um campinho improvisado

De sombra, o arvoredo   

A poeira levantava

Molecada então brincava

Esse era o nosso enredo 


Mas então nos meus 10 anos 

Eu ganhei uma enxada 

Um cabo de guatambu

Duas libras afiada 

Acabava a brincadeira

E a pé, outra jornada  

De enxada eu troquei 

Mas eu nunca descansei 

Desta vida empreitada 


A labuta não acaba 

Nem a minha e nem a tua 

Muito além de ter estrelas 

Ter o sol e ter a lua 

O céu é eternidade 

E talvez eu evolua 

Descalço e de pé no chão 

Voltarei à imensidão 

E o caminho continua

Nenhum comentário:

Postar um comentário